INAUGURAÇÃO DA "CASA POLONESA" EM ÁGUIA BRANCA - 18 DE FEVEREIRO DE 2006
Zdzislaw MALCZEWSKI SChr
A cidadezinha de Águia Branca está situada na região noroeste do Estado do Espírito Santo. À primeira vista, ela não se distingue em nada das outras pequenas cidades situadas no interior daquele Estado. No entanto um olhar mais atento permite perceber algo especial, característico e singular. Tenho em mente os traços especiais que falam do seu polonismo e das suas raízes polonesas. O próprio nome da localidade já aponta para a presença de imigrantes poloneses e de seus descendentes. Encontramos ali: um cemitério polonês, um museu da imigração polonesa e o conjunto folclórico polonês "Águia Branca". No centro da bandeira municipal encontra-se igualmente a Águia Branca.
A colonização polonesa teve início nessa região do País em 1929. Era uma colonização organizada, dirigida pela Sociedade Colonizadora de Varsóvia. O objetivo da Sociedade Colonizadora era estabelecer - numa área comprada do governo estadual - 1.800 famílias polonesas no decorrer de oito anos.
Viajo novamente a Águia Branca em meados de fevereiro de 2006 em companhia do Prof. Dr. Tadeusz Paleczny (da Universidade Jagiellônica) e de sua esposa Danuta. A alguns quilômetros antes da cidadezinha, estende-se diante de nós uma paisagem pitoresca. Elevações rochosas (que pelo seu formato se assemelham ao famoso "Pão de Açúcar" do Rio de Janeiro), entre as quais se destacam plantações de café e de coco, de vez em quando entremeadas de casarios. Todas as vezes que viajei a essa região, tenho sentido uma espécie de fascinação por aquela terra. O Brasil possui uma grande quantidade de lugares belíssimos em que as belezas naturais predominam. Não sei, no entanto, se aquela região não é a mais bela. Ao menos para mim...
A chegada à cidadezinha concentra a minha atenção. A última vez que ali estive foi há dois anos. Percebo na cidadezinha mais ordem, muitas casas reformadas, além das novas construções que surgiram. No centro da cidade chama a atenção um prédio novo, marcado por uma arquitetura diferente, que se distancia da arquitetura local. Trata-se da "Casa Polonesa", cuja construção imita um solar polonês e que foi erguida pela Associação "Wspólnota Polska" (Comunidade Polonesa) de Varsóvia. Aproximamo-nos então dessa "Casa Polonesa". Percebemos em volta uma grande azáfama. As pessoas se apressam em terminar o gramado, plantar árvores tropicais decorativas e dar os últimos retoques no portão de entrada. A casa está aberta. Por isso entramos, a fim de conhecer esse novo centro polônico. Dentro dele encontramos mulheres sorridentes, de tez morena, que ali predomina. Elas fazem a limpeza da casa. Olhamos superficialmente a construção, a que estão sendo dados os últimos retoques. Ainda voltaríamos até lá... Afinal havíamos viajado a Águia Branca para participar da solenidade da entrega da casa, pelo representante da Associação "Wspólnota Polska", à comunidade polônica local. Em razão disso, são visíveis os sinais de um movimento e de uma animação incomum.
No sábado, 18 de fevereiro de 2006, realiza-se a solenidade da inauguração da "Casa Polonesa". Os organizadores - entre os quais merecem menção os sacerdotes poloneses locais (o pároco - Pe. Zbigniew Czerniak SChr e o vigário - Pe. Aloísio Laimann SChr) e representantes da "Associação Polonesa" local, presididos por Luiz Carlos Fedeszyn - providenciaram que o acontecimento fosse solene, grandioso e majestoso. No convite previamente enviado, encontrava-se detalhado o programa das solenidades. O programa compunha-se de três pontos:
1. Missa solene concelebrada em língua portuguesa. Providenciou-se, no entanto, que certas partes da liturgia fossem em língua polonesa. Entre os fiéis de descendência polonesa que se apinhavam no santuário local, mas também em meio a brasileiros de outras origens congregados em grande número, estavam presentes: O cônsul geral da Polônia no Rio de Janeiro - Sr. Dariusz Dudziak, representante da Associação "Wspólnota Polska"; a Sra. Bárbara Rud - cônsul honorária da Polônia em Vitória; o Sr. Adam Czartoryski e o Prof. Dr. Tadeusz Paleczny acompanhado da esposa. Não faltavam pessoas de descendência polonesa originárias de Águia Branca, mas que atualmente residem em diversas regiões do Estado do Espírito Santo. Reconheço entre elas o Sr. Walter Siepierski, um conhecido industrial naquele Estado, que não hesita em dispor de seus recursos para apoiar diversas iniciativas da comunidade polônica local.
A santa missa é concelebrada por três sacerdotes da Sociedade de Cristo. Pelos sacerdotes locais já citados (Pe. Zbigniew Czerniak e Pe. Aloísio Laimann) e pelo autor destas recordações. Fui convidado pelo Pe. Zbigniew para presidir a liturgia e ser o pregador naquela celebração. Entre as pessoas que participavam da liturgia podiam perceber-se manifestações de dignidade, seriedade e alegria. Desenvolvi a pregação em língua portuguesa com base numa pergunta formulada inicialmente: "Águia Branca, qual foi a tua origem?" Citei dois fatos relacionados com o início na colonização polonesa naquela região. O primeiro - a vinda dos nossos emigrados. As condições extremamente difíceis da viagem. Após a viagem marítima - através do Rio de Janeiro até Vitória - os nossos emigrados viajaram de trem até Colatina. Dali foram transportados em caminhões até Aldeamento dos Índios, localidade situada nas proximidades da atual cidade de Pancas. A seguir, a pé, todos caminharam por uma picada cortada no mato em direção à colônia Monte Claro, onde a Sociedade Colonizadora havia construído previamente para os imigrantes um hotel de três andares. Baseando-me nas lembranças daqueles momentos, que me foram transmitidas por Eduardo Glazar - durante uma visita que anteriormente lhe havia feito em sua casa em São Gabriel da Palha - recordei os sofrimentos, as lágrimas e a decepção dos nossos emigrados quando se defrontaram com a nova realidade. Embora essa colonização fosse diferente das colonizações polonesas no Sul do Brasil (nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), e ainda que fosse bem organizada pela Sociedade Colonizadora, não livrou o colono polonês do sofrimento e das lágrimas.O segundo fato recordado foi a visita aos colonos poloneses do primeiro padre polonês - o Pe. Inácio Posadzy. Foi justamente ele quem, ao iniciar a sua visita das colônias polonesas situadas no Estado do Espírito Santo, iniciou a sua missão visitando os nossos colonos em Águia Branca. Na encosta do monte, à sombra da mata que balançava, aos pés de um alto cruzeiro de mogno erguido pelos colonos, o Pe. Inácio Posadzy celebrava para eles as missas, pregava sermões, ouvia confissões, celebrava os primeiros batizados e casamentos. Foi assim a origem de Águia Branca. O seu nascimento ocorreu em meio a sofrimentos, ao trabalho pesado e à fé católica vivamente professada. Levando adiante as minhas reflexões, citei o pronunciamento de um dos representantes da comunidade polônica local, que eu tinha ouvido durante a minha primeira visita a Águia Branca: "Fomos esquecidos pela Polônia e pela Igreja polonesa". Naquela ocasião, esse pronunciamento muito me comoveu e atingiu. Após um breve período de independência, a Polônia teve de enfrentar um destino difícil. No entanto a Pátria não esqueceu de seus filhos espalhados pelo mundo. Decorridos mais de setenta anos da vinda dos nossos primeiros colonos, é justamente a Polônia que entrega aqui a seus descendentes a "Casa Polonesa", construída com recursos da Nação polonesa. A Igreja jamais se esqueceu dos seus fiéis. Nos santuários poloneses sempre se elevavam preces pelos emigrados. O cardeal Augusto Hlond, Primaz da Polônia, fundou uma congregação religiosa especial, a Sociedade de Cristo, para que os seus membros servissem aos nossos emigrados e aos seus descendentes. Há alguns anos, são justamente os padres poloneses da Sociedade de Cristo que exercem o ministério pastoral entre os fiéis e os polônicos de Águia Branca. Assim, pois, passados tantos anos, fez-se justiça. A Polônia e a Igreja da Polônia pagaram uma espécie de dívida diante da comunidade polônica local. Essa comunidade pode alegrar-se com a presença e o trabalho dos sacerdotes poloneses em seu seio, bem como por ter recebido da Nação polonesa o presente que se concretiza na recém-construída "Casa Polonesa". Essa Casa deve ser uma espécie de gancho a unir o passado com o futuro. O museu da imigração polonesa, que finalmente - após peregrinar por diversos locais alugados - encontrou nesta Casa um digno local, deve lembrar as dificuldades que os imigrantes poloneses aqui enfrentaram no início. Na Casa devem realizar-se diversos eventos e encontros a fim de preservar toda essa herança polonesa trazida pelos emigrados e Águia Branca. Das iniciativas da "Associação Polonesa" e de toda a coletividade polônica vai depender o bom aproveitamento do presente recebido da Nação polonesa na forma dessa "Casa Polonesa".
No final da missa o cônsul geral da Polônia - Sr. Dariusz Dudziak - entregou a medalha "Pro memoria" a Miecislau Mozol, que, juntamente com outros voluntários de Águia Branca, durante a Segunda Guerra Mundial viajou à Europa a fim de lutar com as Forças Armadas Polonesas no Ocidente.
2. Solenidade da entrega da "Casa Polonesa" à comunidade polônica. Nas primeiras horas do anoitecer inicia-se a inauguração da "Casa Polonesa". Diante do novo prédio reuniu-se um expressivo número de representantes da coletividade polônica, moradores da cidade e descendentes de poloneses vindos de diversas regiões do Estado do Espírito Santo. Entre eles percebo Beatriz Warchalowski, de Vila Velha - neta de um conhecido líder da comunidade polônica brasileira - Casimiro Warchalowski. Não podemos deixar de citar a presença, na solenidade, de representantes das autoridades municipais, estaduais e federais. O cerimonial chamava pelo nome as personalidades presentes para se colocarem diante da fachada da "Casa Polonesa". Foram executados os hinos do Brasil e da Polônia, bem como do município. A seguir diversas pessoas tomaram a palavra. Nos pronunciamentos manifestava-se uma nota de gratidão diante da Associação "Wspólnota Polska" por ter financiado esse empreendimento, significativo não apenas para a comunidade polônica local, mas para toda a região de Águia Branca. Entre os oradores estava também Eduardo Glazar, que veio com seus pais a Águia Branca em 1931 (tendo dez anos de idade). Ele ofereceu às personalidades presentes um livro recentemente publicado em São Gabriel da Palha: "Brava gente polonesa. Memórias de um imigrante, formação histórica de São Gabriel da Palha e expansão do café conilon no Espírito Santo".
O discurso da representante da Associação "Wspólnota Polska" - Sra. Bárbara Rud - foi várias vezes interrompido por tempestuosos aplausos. Ela ofereceu à "Casa Polonesa" um belo gobelim com a Águia Branca, especialmente trazido da Polônia para essa ocasião. Esse presente foi recebido com calorosos aplausos. Seguiu-se o descerramento da placa que a Sra. Bárbara Rud trouxe da Polônia e que apresenta a seguinte legenda: "Centro de Cultura Polônica em Águia Branca, um presente da Nação Polonesa aos compatriotas financiado com recursos do Senado da República da Polônia". O coroamento dessa solenidade foi o corte da fita na porta de entrada da "Casa Polonesa". Segundo o costume brasileiro, ouviu-se nesse momento o estrondo dos fogos de artifício. A seguir estouraram as rolhas de garrafas de champanhe, que foi servido aos presentes, a começar pelas personalidades presentes. Às pessoas reunidas diante da "Casa Polonesa" foram servidas taças de vinho tinto. Os presentes iniciaram a sua visitação da "Casa Polonesa". A eles cabem expressões de reconhecimento, pois, apesar dos muitos discursos, permaneceram até o final da solenidade.
3. Apresentação de conjuntos na cancha esportiva. Após a inauguração da "Casa Polonesa", dirigimo-nos à cancha de esportes. Um grupo de São Gabriel da Palha fez uma apresentação de capoeira. A seguir o conjunto folclórico "Águia Branca" familiarizou o público reunido com a beleza das danças populares polonesas. Durante as apresentações eram servidos salgados e refrigerantes. A maior parte do público era constituída de jovens. A última etapa desse dia foi um baile, que se estendeu até altas horas da noite.
Na minha vida de emigrante no Brasil tenho participado de dezenas de comemorações polônicas no Sul deste fascinante país. Sem querer prejudicar os organizadores de todos esses eventos, estou convencido de que essa solenidade da entrega da "Casa Polonesa" em Águia Branca foi entre elas a mais distinta, comovente e repassada de simpatia.
No que diz respeito à etnia polonesa no Estado do Espírito Santo, a cidade de Águia Branca é um especial ponto de referência nessa questão. É de se esperar que, da mesma forma que para a inauguração da "Casa Polonesa" vieram de várias regiões do Estado muitas pessoas de descendência polonesa, elas também visitarão essa casa quando forem organizados diversos eventos para a promoção da tradição e da cultura polonesa.
Deixei a cidadezinha de Águia Branca com um sentimento de plena satisfação, convencido de que valeu a pena apoiar aquela comunidade polônica nos seus empenhos para que a Associação "Wspólnota Polska" financiasse esse tão importante empreendimento. Tenho a profunda esperança de que a "Casa Polonesa" prestará bons serviços à divulgação e à manutenção da cultura polonesa em Águia Branca.
Quando visito Águia Branca, a belíssima paisagem daquele local muito me fascina. No entanto a história, o mosaico e a vitalidade dessa coletividade polônica específica de Águia Branca são mais fascinantes ainda. Os imigrantes poloneses que colonizaram aquela região estiveram muito afastados das demais aglomerações polonesas. Nessas condições, foram forçados a uma assimilação mais rápida que a de seus compatriotas estabelecidos no Sul do Brasil. Através dos matrimônios contraídos, os poloneses e seus descendentes ingressavam em novas constelações étnicas. Assim se moldou o belíssimo mosaico da coletividade polônica de Águia Branca. Os casamentos de poloneses com brasileiros de outras origens, inclusive negros e índios, produziram o fruto de um novo brasileiro que se identifica com suas raízes polonesas.
Foi bom que essa comunidade polônica, tão diferente, mas ao mesmo tempo culturalmente mais rica, tenha contado com a resposta positiva da parte da Associação "Wspólnota Polska", que em nome da Nação Polonesa presenteou-a com a bela e funcional "Casa Polonesa". Essa casa será com certeza uma casa aberta a todos aqueles que são caros os valores da herança polonesa, que em Águia Branca fixaram raízes profundas. Oxalá isso perdure por muito tempo... para o bem da simbiose cultural polono-brasileira.
Zdzislaw MALCZEWSKI SChr
A cidadezinha de Águia Branca está situada na região noroeste do Estado do Espírito Santo. À primeira vista, ela não se distingue em nada das outras pequenas cidades situadas no interior daquele Estado. No entanto um olhar mais atento permite perceber algo especial, característico e singular. Tenho em mente os traços especiais que falam do seu polonismo e das suas raízes polonesas. O próprio nome da localidade já aponta para a presença de imigrantes poloneses e de seus descendentes. Encontramos ali: um cemitério polonês, um museu da imigração polonesa e o conjunto folclórico polonês "Águia Branca". No centro da bandeira municipal encontra-se igualmente a Águia Branca.
A colonização polonesa teve início nessa região do País em 1929. Era uma colonização organizada, dirigida pela Sociedade Colonizadora de Varsóvia. O objetivo da Sociedade Colonizadora era estabelecer - numa área comprada do governo estadual - 1.800 famílias polonesas no decorrer de oito anos.
Viajo novamente a Águia Branca em meados de fevereiro de 2006 em companhia do Prof. Dr. Tadeusz Paleczny (da Universidade Jagiellônica) e de sua esposa Danuta. A alguns quilômetros antes da cidadezinha, estende-se diante de nós uma paisagem pitoresca. Elevações rochosas (que pelo seu formato se assemelham ao famoso "Pão de Açúcar" do Rio de Janeiro), entre as quais se destacam plantações de café e de coco, de vez em quando entremeadas de casarios. Todas as vezes que viajei a essa região, tenho sentido uma espécie de fascinação por aquela terra. O Brasil possui uma grande quantidade de lugares belíssimos em que as belezas naturais predominam. Não sei, no entanto, se aquela região não é a mais bela. Ao menos para mim...
A chegada à cidadezinha concentra a minha atenção. A última vez que ali estive foi há dois anos. Percebo na cidadezinha mais ordem, muitas casas reformadas, além das novas construções que surgiram. No centro da cidade chama a atenção um prédio novo, marcado por uma arquitetura diferente, que se distancia da arquitetura local. Trata-se da "Casa Polonesa", cuja construção imita um solar polonês e que foi erguida pela Associação "Wspólnota Polska" (Comunidade Polonesa) de Varsóvia. Aproximamo-nos então dessa "Casa Polonesa". Percebemos em volta uma grande azáfama. As pessoas se apressam em terminar o gramado, plantar árvores tropicais decorativas e dar os últimos retoques no portão de entrada. A casa está aberta. Por isso entramos, a fim de conhecer esse novo centro polônico. Dentro dele encontramos mulheres sorridentes, de tez morena, que ali predomina. Elas fazem a limpeza da casa. Olhamos superficialmente a construção, a que estão sendo dados os últimos retoques. Ainda voltaríamos até lá... Afinal havíamos viajado a Águia Branca para participar da solenidade da entrega da casa, pelo representante da Associação "Wspólnota Polska", à comunidade polônica local. Em razão disso, são visíveis os sinais de um movimento e de uma animação incomum.
No sábado, 18 de fevereiro de 2006, realiza-se a solenidade da inauguração da "Casa Polonesa". Os organizadores - entre os quais merecem menção os sacerdotes poloneses locais (o pároco - Pe. Zbigniew Czerniak SChr e o vigário - Pe. Aloísio Laimann SChr) e representantes da "Associação Polonesa" local, presididos por Luiz Carlos Fedeszyn - providenciaram que o acontecimento fosse solene, grandioso e majestoso. No convite previamente enviado, encontrava-se detalhado o programa das solenidades. O programa compunha-se de três pontos:
1. Missa solene concelebrada em língua portuguesa. Providenciou-se, no entanto, que certas partes da liturgia fossem em língua polonesa. Entre os fiéis de descendência polonesa que se apinhavam no santuário local, mas também em meio a brasileiros de outras origens congregados em grande número, estavam presentes: O cônsul geral da Polônia no Rio de Janeiro - Sr. Dariusz Dudziak, representante da Associação "Wspólnota Polska"; a Sra. Bárbara Rud - cônsul honorária da Polônia em Vitória; o Sr. Adam Czartoryski e o Prof. Dr. Tadeusz Paleczny acompanhado da esposa. Não faltavam pessoas de descendência polonesa originárias de Águia Branca, mas que atualmente residem em diversas regiões do Estado do Espírito Santo. Reconheço entre elas o Sr. Walter Siepierski, um conhecido industrial naquele Estado, que não hesita em dispor de seus recursos para apoiar diversas iniciativas da comunidade polônica local.
A santa missa é concelebrada por três sacerdotes da Sociedade de Cristo. Pelos sacerdotes locais já citados (Pe. Zbigniew Czerniak e Pe. Aloísio Laimann) e pelo autor destas recordações. Fui convidado pelo Pe. Zbigniew para presidir a liturgia e ser o pregador naquela celebração. Entre as pessoas que participavam da liturgia podiam perceber-se manifestações de dignidade, seriedade e alegria. Desenvolvi a pregação em língua portuguesa com base numa pergunta formulada inicialmente: "Águia Branca, qual foi a tua origem?" Citei dois fatos relacionados com o início na colonização polonesa naquela região. O primeiro - a vinda dos nossos emigrados. As condições extremamente difíceis da viagem. Após a viagem marítima - através do Rio de Janeiro até Vitória - os nossos emigrados viajaram de trem até Colatina. Dali foram transportados em caminhões até Aldeamento dos Índios, localidade situada nas proximidades da atual cidade de Pancas. A seguir, a pé, todos caminharam por uma picada cortada no mato em direção à colônia Monte Claro, onde a Sociedade Colonizadora havia construído previamente para os imigrantes um hotel de três andares. Baseando-me nas lembranças daqueles momentos, que me foram transmitidas por Eduardo Glazar - durante uma visita que anteriormente lhe havia feito em sua casa em São Gabriel da Palha - recordei os sofrimentos, as lágrimas e a decepção dos nossos emigrados quando se defrontaram com a nova realidade. Embora essa colonização fosse diferente das colonizações polonesas no Sul do Brasil (nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), e ainda que fosse bem organizada pela Sociedade Colonizadora, não livrou o colono polonês do sofrimento e das lágrimas.O segundo fato recordado foi a visita aos colonos poloneses do primeiro padre polonês - o Pe. Inácio Posadzy. Foi justamente ele quem, ao iniciar a sua visita das colônias polonesas situadas no Estado do Espírito Santo, iniciou a sua missão visitando os nossos colonos em Águia Branca. Na encosta do monte, à sombra da mata que balançava, aos pés de um alto cruzeiro de mogno erguido pelos colonos, o Pe. Inácio Posadzy celebrava para eles as missas, pregava sermões, ouvia confissões, celebrava os primeiros batizados e casamentos. Foi assim a origem de Águia Branca. O seu nascimento ocorreu em meio a sofrimentos, ao trabalho pesado e à fé católica vivamente professada. Levando adiante as minhas reflexões, citei o pronunciamento de um dos representantes da comunidade polônica local, que eu tinha ouvido durante a minha primeira visita a Águia Branca: "Fomos esquecidos pela Polônia e pela Igreja polonesa". Naquela ocasião, esse pronunciamento muito me comoveu e atingiu. Após um breve período de independência, a Polônia teve de enfrentar um destino difícil. No entanto a Pátria não esqueceu de seus filhos espalhados pelo mundo. Decorridos mais de setenta anos da vinda dos nossos primeiros colonos, é justamente a Polônia que entrega aqui a seus descendentes a "Casa Polonesa", construída com recursos da Nação polonesa. A Igreja jamais se esqueceu dos seus fiéis. Nos santuários poloneses sempre se elevavam preces pelos emigrados. O cardeal Augusto Hlond, Primaz da Polônia, fundou uma congregação religiosa especial, a Sociedade de Cristo, para que os seus membros servissem aos nossos emigrados e aos seus descendentes. Há alguns anos, são justamente os padres poloneses da Sociedade de Cristo que exercem o ministério pastoral entre os fiéis e os polônicos de Águia Branca. Assim, pois, passados tantos anos, fez-se justiça. A Polônia e a Igreja da Polônia pagaram uma espécie de dívida diante da comunidade polônica local. Essa comunidade pode alegrar-se com a presença e o trabalho dos sacerdotes poloneses em seu seio, bem como por ter recebido da Nação polonesa o presente que se concretiza na recém-construída "Casa Polonesa". Essa Casa deve ser uma espécie de gancho a unir o passado com o futuro. O museu da imigração polonesa, que finalmente - após peregrinar por diversos locais alugados - encontrou nesta Casa um digno local, deve lembrar as dificuldades que os imigrantes poloneses aqui enfrentaram no início. Na Casa devem realizar-se diversos eventos e encontros a fim de preservar toda essa herança polonesa trazida pelos emigrados e Águia Branca. Das iniciativas da "Associação Polonesa" e de toda a coletividade polônica vai depender o bom aproveitamento do presente recebido da Nação polonesa na forma dessa "Casa Polonesa".
No final da missa o cônsul geral da Polônia - Sr. Dariusz Dudziak - entregou a medalha "Pro memoria" a Miecislau Mozol, que, juntamente com outros voluntários de Águia Branca, durante a Segunda Guerra Mundial viajou à Europa a fim de lutar com as Forças Armadas Polonesas no Ocidente.
2. Solenidade da entrega da "Casa Polonesa" à comunidade polônica. Nas primeiras horas do anoitecer inicia-se a inauguração da "Casa Polonesa". Diante do novo prédio reuniu-se um expressivo número de representantes da coletividade polônica, moradores da cidade e descendentes de poloneses vindos de diversas regiões do Estado do Espírito Santo. Entre eles percebo Beatriz Warchalowski, de Vila Velha - neta de um conhecido líder da comunidade polônica brasileira - Casimiro Warchalowski. Não podemos deixar de citar a presença, na solenidade, de representantes das autoridades municipais, estaduais e federais. O cerimonial chamava pelo nome as personalidades presentes para se colocarem diante da fachada da "Casa Polonesa". Foram executados os hinos do Brasil e da Polônia, bem como do município. A seguir diversas pessoas tomaram a palavra. Nos pronunciamentos manifestava-se uma nota de gratidão diante da Associação "Wspólnota Polska" por ter financiado esse empreendimento, significativo não apenas para a comunidade polônica local, mas para toda a região de Águia Branca. Entre os oradores estava também Eduardo Glazar, que veio com seus pais a Águia Branca em 1931 (tendo dez anos de idade). Ele ofereceu às personalidades presentes um livro recentemente publicado em São Gabriel da Palha: "Brava gente polonesa. Memórias de um imigrante, formação histórica de São Gabriel da Palha e expansão do café conilon no Espírito Santo".
O discurso da representante da Associação "Wspólnota Polska" - Sra. Bárbara Rud - foi várias vezes interrompido por tempestuosos aplausos. Ela ofereceu à "Casa Polonesa" um belo gobelim com a Águia Branca, especialmente trazido da Polônia para essa ocasião. Esse presente foi recebido com calorosos aplausos. Seguiu-se o descerramento da placa que a Sra. Bárbara Rud trouxe da Polônia e que apresenta a seguinte legenda: "Centro de Cultura Polônica em Águia Branca, um presente da Nação Polonesa aos compatriotas financiado com recursos do Senado da República da Polônia". O coroamento dessa solenidade foi o corte da fita na porta de entrada da "Casa Polonesa". Segundo o costume brasileiro, ouviu-se nesse momento o estrondo dos fogos de artifício. A seguir estouraram as rolhas de garrafas de champanhe, que foi servido aos presentes, a começar pelas personalidades presentes. Às pessoas reunidas diante da "Casa Polonesa" foram servidas taças de vinho tinto. Os presentes iniciaram a sua visitação da "Casa Polonesa". A eles cabem expressões de reconhecimento, pois, apesar dos muitos discursos, permaneceram até o final da solenidade.
3. Apresentação de conjuntos na cancha esportiva. Após a inauguração da "Casa Polonesa", dirigimo-nos à cancha de esportes. Um grupo de São Gabriel da Palha fez uma apresentação de capoeira. A seguir o conjunto folclórico "Águia Branca" familiarizou o público reunido com a beleza das danças populares polonesas. Durante as apresentações eram servidos salgados e refrigerantes. A maior parte do público era constituída de jovens. A última etapa desse dia foi um baile, que se estendeu até altas horas da noite.
Na minha vida de emigrante no Brasil tenho participado de dezenas de comemorações polônicas no Sul deste fascinante país. Sem querer prejudicar os organizadores de todos esses eventos, estou convencido de que essa solenidade da entrega da "Casa Polonesa" em Águia Branca foi entre elas a mais distinta, comovente e repassada de simpatia.
No que diz respeito à etnia polonesa no Estado do Espírito Santo, a cidade de Águia Branca é um especial ponto de referência nessa questão. É de se esperar que, da mesma forma que para a inauguração da "Casa Polonesa" vieram de várias regiões do Estado muitas pessoas de descendência polonesa, elas também visitarão essa casa quando forem organizados diversos eventos para a promoção da tradição e da cultura polonesa.
Deixei a cidadezinha de Águia Branca com um sentimento de plena satisfação, convencido de que valeu a pena apoiar aquela comunidade polônica nos seus empenhos para que a Associação "Wspólnota Polska" financiasse esse tão importante empreendimento. Tenho a profunda esperança de que a "Casa Polonesa" prestará bons serviços à divulgação e à manutenção da cultura polonesa em Águia Branca.
Quando visito Águia Branca, a belíssima paisagem daquele local muito me fascina. No entanto a história, o mosaico e a vitalidade dessa coletividade polônica específica de Águia Branca são mais fascinantes ainda. Os imigrantes poloneses que colonizaram aquela região estiveram muito afastados das demais aglomerações polonesas. Nessas condições, foram forçados a uma assimilação mais rápida que a de seus compatriotas estabelecidos no Sul do Brasil. Através dos matrimônios contraídos, os poloneses e seus descendentes ingressavam em novas constelações étnicas. Assim se moldou o belíssimo mosaico da coletividade polônica de Águia Branca. Os casamentos de poloneses com brasileiros de outras origens, inclusive negros e índios, produziram o fruto de um novo brasileiro que se identifica com suas raízes polonesas.
Foi bom que essa comunidade polônica, tão diferente, mas ao mesmo tempo culturalmente mais rica, tenha contado com a resposta positiva da parte da Associação "Wspólnota Polska", que em nome da Nação Polonesa presenteou-a com a bela e funcional "Casa Polonesa". Essa casa será com certeza uma casa aberta a todos aqueles que são caros os valores da herança polonesa, que em Águia Branca fixaram raízes profundas. Oxalá isso perdure por muito tempo... para o bem da simbiose cultural polono-brasileira.
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